terça-feira, 1 de janeiro de 2008

O Líbano é aqui!

Lembro de 1987. Um amigo inusitado, brasileiro, recém chegado do Líbano, exibia fotos da terra onde foi criado. Marcas de balas e bombas de fazer inveja às favelas atuais. Sobravam escombros onde as pessoas, no seu dia-a-dia, amavam, se acariciavam e geravam filhos. Não há guerra que destrua os desejos.

Será? Pois cheguei aqui, nas bandas do bairro do Ipiranga, faz uns 10 anos. Bairro tranqüilo, ruas calmas no entorno da Av. Nazaré. Olhava o horizonte e via a cruz no alto da igreja da FAI (Faculdades Integradas do Ipiranga). Era mais que contraste, era o caminho para o céu.

O tempo passou e três espigões bloqueram o caminho. Atingir o céu necessitava desvio. Homens trabalhavam crentes em sua plenitude naquele mar de concreto, ferro, fios e blocos de cimento. Não sabiam da barreira que criavam para se alcançar a eternidade.

Choros e lamúrios pouco resolveram. Isso continua crescendo. E para cima. Ver onde é o leste e o oeste se tornará impossível em pouco tempo. Saber onde o Sol nasce será algo acessível apenas à quem pode pagar pela cobertura. Entraremos na era da bússola como marinheiros perdidos.

O terror bate na porta. Vejo velhos abandonando suas casas para locais mais distantes. Em seu lugar entrarão prédios altíssimos a nos esconder o sol. Antigos sobrados, bombardeados por marretas, esconderão para sempre a história dos que ali viveram. Esconderão nosso passado sob toneladas de concreto.

Um comentário:

Anônimo disse...

É lamentável que as nossas casas que contam histórias estão sendo destruídas por executivos endinheirados.