quinta-feira, 29 de maio de 2008

Corno e formiga tem em todo lugar

- Juro Vicente, eu não te traí!!!!
(Plaft, plaft, plaft!!!)
- É verdade! Juro pelo nosso casamento!!! Quero ficar viúva se estiver mentindo.
- Tô irado!!!
- Num tem nada a ver. Acredita em mim....
- Vocês vão se ver comigo!!!
- Olha, Vicente, eles tavam pelados no quarto pra trocar de roupa...
- Ficam comendo minha mulher!!! Vai morrer tudo!!!
- Fez a maior sujeira na hora de consertar a pia...
- Mulé, dá um tempo! Depois a gente fala disso. Agora tô tentando acabar com essas formigas!!!

domingo, 18 de maio de 2008

Jacenildo o extremista

Ele não enfrentou revoluções, nem a sexual. Aliás, nasceu pela recusa da mamãe tomar pílula. Um assassinato de “porra”, como dizia ela em meio às sacanagens do quarto. Recusava-se ao sexo oral.

- Não quero cagar filho!!!, teologicava.

Assim viveu Jacenildo, entre os extremos da cristandade e da safadeza. Aprendeu desde cedo a confissão. Todo pecado redimido na decora do pai nosso e aves marias intermináveis. Rezava baixinho entre a louvação e o ridículo da cena semanal. Joelhos lanhados no genuflexusor. Feridas do mesmo tamanho de seus pecados.

Foi ser, até a morte, entre o tolerável e não tolerável. Jamais descobriu o perdão sem intermediários. Perdão daqueles que procuram o cavalo seguindo a merda deixada no caminho. Vida de tudo ou nada, sem possibilidade entre ódio e amor.

segunda-feira, 12 de maio de 2008

Poema da portuguesa, a língua

o rio, como rir, todo mundo tem medo de usar
igual a sua como suar
que vira soa,
de soar

quinta-feira, 8 de maio de 2008

O dia em que Dilma encarou a guarda

Esse é um registro histórico do Congresso Nacional Brasileiro. O senador José Agripino Maia (DEM) provocou a ministra Dilma Roussef dizendo que ela admitiu ter mentido quando foi torturada no período da ditadura civil e militar, como diria meu amigo Alípio Freire. Insinuava que Dilma iria mentir durante a inquirição no senado.

Pois Dilma, como Dorival (veja o curta de Jorge Furtado http://www.portacurtas.com.br/Filme.asp?Cod=399), encarou a guarda e lavou a alma.

Eis a resposta de Dilma:

"Qualquer comparação entre a ditadura militar e a democracia brasileira, só pode partir de quem não dá valor à democracia brasileira. Eu tinha 19 anos, fiquei três anos na cadeia e fui barbaramente torturada, senador. E qualquer pessoa que ousar dizer a verdade para os seus interrogadores, compromete a vida dos seus iguais e entrega pessoas para serem mortas. Eu me orgulho muito de ter mentido senador, porque mentir na tortura não é fácil. Agora, na democracia se fala a verdade, diante da tortura, quem tem coragem, dignidade, fala mentira. E isso (aplausos) e isso, senador, faz parte e integra a minha biografia, que eu tenho imenso orgulho, e eu não estou falando de heróis. Feliz do povo que não tem heróis desse tipo, senador, porque agüentar a tortura é algo dificílimo, porque todos nós somos muito frágeis, todos nós. Nós somos humanos, temos dor, e a sedução, a tentação de falar o que ocorreu e dizer a verdade é muito grande senador, a dor é insuportável, o senhor não imagina quanto é insuportável. Então, eu me orgulho de ter mentido, eu me orgulho imensamente de ter mentido, porque eu salvei companheiros, da mesma tortura e da morte. Não tenho nenhum compromisso com a ditadura em termos de dizer a verdade. Eu estava num campo e eles estavam noutro e o que estava em questão era a minha vida e a de meus companheiros. E esse país, que transitou por tudo isso que transitou, que construiu a democracia, que permite que hoje eu esteja aqui, que permite que eu fale com os senhores, não tem a menor similaridade, esse diálogo aqui é o diálogo democrático. A oposição pode me fazer perguntas, eu vou poder responder, nós estamos em igualdade de condições humanas, materiais. Nós não estamos num diálogo entre o meu pescoço e a forca, senador. Eu estou aqui num diálogo democrático, civilizado, e por isso eu acredito e respeito esse momento. Por isso, todas a vezes...eu já vim aqui nessa comissão antes. Então, eu começo a minha fala dizendo isso, porque isso é o resgate desse processo que ocorreu no Brasil. Vou repetir mais uma vez: Não há espaço para a verdade, e é isso que mata na ditadura. O que mata na ditadura é que não há espaço para a verdade porque não há espaço para a vida, senador. Porque algumas verdades, até as mais banais, podem conduzir a morte. É só errarem a mão no seu interrogatório. E eu acredito, senador, que nós estávamos em momentos diversos da nossa vida em 70. Eu asseguro pro senhor, eu tinha entre 19 e 21 anos e, de fato, eu combati a ditadura militar, e disso eu tenho imenso orgulho."

segunda-feira, 5 de maio de 2008

Filho do AI-5

Engraçada, se podemos dizer assim, essa vida. Tenho um amigo que foi preso, por atividades subversivas, em 31 de agosto de 1969. É o mesmo dia em que nasci. Escapou das torturas e da prisão quando eu completava meus cinco anos de idade e tudo o que queria era andar num pequeno jipe metálico movido a pedais.

Sou fruto da desesperança. Fui gerado na desesperança. O Passarinho (Jarbas) que cantava na janela fazia apologias à prisão e não à liberdade. Nesse tempo em que eu era uma “porrinha de nada”, literalmente, as mães davam às trevas. Saíamos da prisão do ventre aconchegante para a prisão de uma sociedade repressora, moldada pelas lições de educação moral e cívica.

Hoje olho o céu de outono. É o que mais gosto. Azul e frio. E não enxergo o passado grudado em minhas costas. Sinto somente seu peso asfixiante e dolorido, cansativo e eterno. Passado eterno parece contradição.

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Elogio à Cegueira

Entrei faz pouco no blog do Luiz Carlos Azenha. Do lado direito, na seção Baú do Azenha, uma chamada para texto: óculos. Não ia perder a oportunidade de ler algo desse bem tão precioso. Belo texto sobre esse acessório que, para mim, é mais importante que cuecas. Acreditem... posso um dia até sair sem cuecas na rua, sem meus óculos jamais!

Nunca li Ensaio sobre a Cegueira, de Saramago. Mas um dia assisti no cinema - coisa rara em minha vida - o filme Janela da Alma. Pela primeira vez, de óculos, pude ver aquilo que vejo sem eles. Era uma cena simples em plena rua. Uma viagem de carro onde as luzes formavam um clarão incompreensível e magnífico. A essência da luz desacoplada de seu objeto.

Por três vezes em 30 anos tive os óculos quebrados. Sem um conjunto sobressalente penei durante a espera. O trabalho estagnou. Como bibliotecário e fotógrafo enxergar é essencial. Pedia ajuda para ler documentos urgentes. Pedia ajuda para atravessar a rua e arrumar os cabelos. Minha amiga Daia até hoje toma a providência de limpar meus óculos, debaixo do sol escaldante, quando fotografamos juntos. Limpa como se estivesse limpando os olhos de um bebê.

Sem mágoas da situação. Tivesse enxergado mais, teria lido menos. O que me fez ler foi a incapacidade de ver onde uma bola ia. Jogador "cegueta" só serve para dar canelada na defesa quando o time quer ir para a briga. O melhor de tudo é que quando se retira os óculos aguçam-se os cheiros, os calores, a respiração.

terça-feira, 25 de março de 2008

Sem palavras

Eis Tatyana (Cacau) ... nova cria da família.

segunda-feira, 24 de março de 2008

Cacau

Escrever é um processo que, para mim, sempre foi dolorido. Poucos acreditam nisso depois que descobrem que sou capaz de escrever um longo texto em apenas duas horas. O problema não é escrever, é sentir. O bater dedos nessa maravilha de notebook que acabo de pagar é relativamente simples. Incomoda a dor da vivência. Mesmo nas boas experiências, a responsabilidade de descrever próximo ao real assemelha-se à dor do parto.

Essa dor é, porém, a motivação desse texto. Hoje serei tio. Vejo que meu blog se transformou em um relato familiar, coisa não pensada. Só que agora não dá para fugir diante de tamanha euforia. Tatyana, que nasce hoje é, entre os sobrinhos consagüínios, a terceira. Nunca fiz festa por Danilo e Bianca, filhos de minha irmã. Que me perdoem. É que a luta de minha cunhada Sandra para ser mãe merece um lugar reservado. Ou agrado Tatyana agora, ou jamais terei um tiquinho de seu amor.

Então resolvi escrever uma carta para que ela leia quando ainda for muito jovem. Naquela fase do livro infantil, onde meia dúzia de palavras bastam para aflorar a imaginação. Sabe lá o dia de amanhã. Vai que não estou aqui para curtir seus olhinhos.

Tatyana, minha flor
Ontem abri um ovo de páscoa e sonhei que você saía lá de dentro. Saía pretinha de chocolate. Saía doce de dar vontade de morder.
Você não veio lá dentro. Me deixou com mais, muito mais vontade. Uma vontade de te pegar em minhas mãos e sentir você derreter bem devagarinho.
De hoje você não escapa! Vou sentir o gosto do seu sorriso e a graça do seu choro dizendo que tá frio.
E sua mãe vai botar mais leite em sua receita. Para que você cresça e nunca acabe.
De seu tio que adora coisas doces,
Edu

sábado, 15 de março de 2008

Teresinha Fahl - minha mãe pequenina

Voltei às coisas comezinhas da vida. Conversava, por aí, sobre os momentos difíceis da vida. Lembrei de quase fui desta para sabe onde. Um joelho estourado e umas doses do remédio Profenid Retard. Quase morte.

Fiquei com tornozelos inchados, feito elefantíase. Estômago corroído que nada recebia. Perdi uns doze quilos dos poucos que tinha. Era bem magrelinho naquela época. Distribuía comprimidos em um prato e quase os comia de colher.

Cheguei bem perto da morte, podem acreditar. Até ser salvo por uma maçã, símbolo do pecado original. Eu, aos 16 anos, comi uma maçã ralada na colherinha. Recebi na boca com o carinho de mãe. As forças perdidas foram recuperadas. Vivi muito depois disso.

Hoje penso que minha mãe foi Eva. Deu-me a vida e a manteve mesmo que para isso tivesse que usar uma maçã. Quem até hoje não me atura, saiba: só estou aqui por conta dela.

À ela dou todos os direitos de errar e de pecar. Nada importa além do carinho.

quinta-feira, 13 de março de 2008

Pai malvado

Tico e Teco são dois meninos normais. Exibem qualidades e defeitos em igual tamanho. O pai, porém, sente-se Rei e se faz chamar por tal. Tio Rei, o antigo Reinaldinho ruim de bola nas peladas dos meninos. Que diferença umas letrinhas mal colocadas. Fosse Ronaldinho e estaria na Espanha sem medo de ser barrado na alfândega.

Pois bem o Rei, pai malvado, só tinha olhos para Tico. As virtudes de Tico eram os defeitos de Teco... os defeitos de Teco, as virtudes de Tico. Daí sua predileção entre o bem e o mal, o certo e o errado, o positivo e o negativo. Configuração binária da mente.

Ensandecido entre o bem absoluto e o mal absoluto, decidiu que Teco deveria morrer. Tico ficou livre da pecha de Caim. Tio Rei decidiu matar Teco propondo a caça dele e de seus amigos. Recriou o holocausto do pensamento contrário. Inovador?, que nada. A TFP (Tradição, Família e Propriedade) já havia feito algo parecido nos idos dos anos 60.

Confuso? Explico.

O pai malvado tem nome e sobrenome: Reinaldo Azevedo. Jornalista sitiado nas páginas online da Veja. Aquela revista que hoje tem por lema "indispensável para o país que queremos ser". Contra as desigualdes? Ético? Democrático?

Pois entro no blog do tal Reinaldo Azevedo - auto-denominado Tio Rei - e encontro essa pérola:

Petralhas
Acabou passando um lote grande de petralhas. Vamos caçá-los.

Lá quem pensa diferente do dito cujo não tem vez. A violência verbal fez lembrar de outros caçadores, o CCC (Comando de Caça aos Comunistas). Impossível perder a oportunidade para atacar de Apparício Torelly, o Barão de Itararé.
Dizem que depois de ter seu jornal invadido pela polícia de Getúlio que o espancou e prendeu, pendurou na porta "ENTRE SEM BATER".

A ironia brotou e tomei coragem de postar no site de Sua (minha não é!) Majestade o seguinte comentário:

Tarso Felipe de Paula disse...
Em breve vão me chamar de direitista!!! Mas convenhamos, temos que urgentemente criar o CCP (Comando de Caça aos Petralhas). Se queremos ser um país ético e democrático, vamos deixar de pudores! Cadeia aos comunistas rancorosos, dinossauros ideológicos!!! Pau neles!!!

Democrático? Onde?

PS: Tarso Felipe de Paula (meu pseudônimo) pode ser abreviado como TFP.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

A saga do tio Valdemar

Nem sei se era com V ou com W. O que interessa é o seguinte: nunca fiz tantas visitas para enterrar um não morto. A memória vai longe e dela só sobram os cheiros. Cheiro de casa interiorana com asfalto recém construído.

Rio Claro tinha um areia fina. Na beira do trilho de trem, onde um outro tio morreu atropelado, corria um leito arenoso que fazia a cidade parecer litoral. Sério mesmo! Um tapete de afundar até os calcanhares.

O asfalto naquelas bandas não servia como leito carroçável, esse eufemismo de recepção de de veículos motorizados. Famílias estendiam ali a colheita de arroz para secagem mais rápida.

Volta para o tio, tio-avô na verdade. Devia ter uns quatro ou cinco anos quando fui para Rio Claro ver o danado do velho (nessa idade todo mundo é velho) que estava para morrer. Fiz isso anos seguidos, ou por convite funeral ou por visitas familiares. Sempre tio Valdemar estava encomendado.

Na última visita, mais de 10 anos depois da primeira, encontrei-o bem cuidado. A filha e o genro davam a atenção necessária para ele e sua sonda amarelinha de urina. Móveis antigos e plantas na entrada da casa a tranformavam no sonho de túmulo perfeito e cheiroso.

Conversa vai, conversa vem, um gole de café e o desabafo. O velho Valdemar enterrou todos os irmãos. Só sobrara ele, parado no tempo como calendário esquecido em casa abandonada. Confesso que na hora torci para que a morte chegasse antes da amargura. Pelo que sei ainda pode sorrir em seu caixão.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Mataram o véio

Mamãe eu quero ir pra Cuba!!! Mas quero ir com o Fidel ainda vivo. Pena que o homem já não existe mais para o UOL. Destaquei algumas passagens bem originais do texto do Murilo de Carvalho:

"Até os últimos anos de sua vida, manteve-se bem informado, podendo versar sobre assuntos os mais diversos, desde a agricultura até a Internet, em geral com pontos de vista firmes em que transparecia a crítica ao capitalismo e à sociedade de consumo." (grifo meu)
"Eu tenho autoridade, claro, tenho influência, por razões históricas, mas não dou ordens nem governo por decreto", afirmava." (grifo meu)

Acredito que sejam daqueles textos prontos para a hora que o indivíduo bate as botas. Necrológico puro. Mas o homem anda mais resistente que o tio Valdemar lá de Rio Claro (um dia conto essa saga).

Ou algo pior que isso. Vai ver ninguém acreditava que Fidel pudesse deixar o poder antes de morto. O hit do momento em Miami e na nossa imprensa é Sérgio Reis cantando “Mata o véio, mata o véio...”

Só rindo.

Leia o original: http://noticias.uol.com.br/ultnot/especial/2008/cuba/perfilfidel.jhtm

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Bomba, que nada!

Somos um pedaço de pavio. Queimados pelo pedaço de trás e que queima o da frente.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

O que moinhos geram?

Belo dia visitei a favela do Moinho. Bem no centro de São Paulo, abaixo do viaduto da av. Rio Branco. Fazia um trabalho fotográfico sobre a moradia digna. Havia trabalhado na rua Eduardo Prado. Lá, um antigo violinista dos cinemas da cidade (sim!!! na época do cinema mudo havia música ao vivo) contava sobre as bombas que caiam sobre os silos de farinha durante a revolução de 32.
O lugar era medonho. Circundado por trilhos de trem que ligam bairros da capital à grande São Paulo. Cantinho que nem traficante quer morar. Crianças brincavam entre barracos de madeira, água fétida e ruas de terra. Mas algo ali se destacava além dos antigos prédios da família Matarazzo. O que era, só percebi depois de algum tempo.
Desço dos antigos silos, agora bombardeados pelo tempo. Ladeira abaixo pelas escadas, do meu lado direito, um grande fosso assustador. À esquerda paredes davam vista aos trilhos e ao mar de finas lâminas de madeira em forma de barracos. Em todo espaço o cheiro de cobre derretido para reciclagem.
Volto arrebentado de degraus e pavor. Um escorregão e lá se vão os desejos, as vontades e os amores. Na saída, o bar do Edmilson. Cerveja de graça e pinga para o almofadinha (eu) que enfrentou a altura dos silos. Já em solo - seguro e um tanto bêbado, antes do forró - é que ouço uma frase que marcará minha vida: "vocês vem aqui discutir o limite da pobreza. Tem que discutir, antes, o limite da ganância".
O que os olhos mostravam, a alma não via.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Como driblar o tempo

Escrevo nessa manhã de carnaval com maritacas ao meu ouvido. Não lembro de aparecerem nessa época do ano. Acho que só em meados de março, início do outono, elas vinham colorir de verde claro as copas das árvores em frente à delegacia. E emitir um som alto, todas ao mesmo tempo, acordando os antigos presos da carceragem.

Na outra esquina, mais novidades. Ela é dona de bar, 64 anos e viúva faz seis. O marido morreu novo, era mais jovem que ela e se foi tão rápido como uma talagada de pinga em dia de brinde. Continuou morando no mesmo lugar. Um quarto contíguo ao bar, coisa pequena de 2m x 2,50m, espaço onde só cabem ela e sua solidão.

Nos últimos anos fizeram propostas de compra do bar. Todas recusadas. Propostas de casamento, então, nem se fala. Recusava também. Mas o flerte acabrunhado da pernambucana enche o ambiente. Enche tanto que as portas permanecem levantadas do início da manhã até o surgimento das estrelas.

Ontem contou que está para se casar. Se fora de época ou não, tingiu por algumas horas o céu de azul. Enganou as maritacas, tenho certeza.

domingo, 27 de janeiro de 2008

Mergulho

Confesso: o espetáculo era bom. Dezenas de mulheres desfilavam no concurso Musa Motoboy 2008. Daquelas mulheres carnudas, tenras, que caem bem com cerveja, caipirinha ou vinho. Loiras, morenas e negras que aceleram corações frágeis e atiçam sonhos onde o pecado não existe. Para tudo aquilo deve haver perdão, ou creia-se que Deus é um soldado norte-americano em Guantánamo.
Ali, escondidinha, a menina da produção do evento. Lembro o nome não. Registro seus olhos. Os mais bonitos que já vi. Azuis que convidam para um mergulho, infinito mergulho em um mar onde muitos devem ter naufragado.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Velozes, furiosos e molhados

Mesmo combalido por uma pneumonia adquirida nessa vida desregrada, lá fui fotografar o GP Cidade de São Paulo. Chuva de balde. Dessas de fazer lambari se sentir numa mansão. Abaixo a tentativa de fotografar o Lamborghini vencedor em plena reta. Em semiótica isso tem um nome que não me lembro mais.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Pisares 1 (para minha criança)

Ela é o Sol. Traz a luz e queima a pele. Um calor que sobe por dentro. Faz você emergir com a força do nascer. Te expele para o mundo causando dor e assombro do novo. Você vê que a proteção uterina se foi e algo se mostra em sua frente. São mãos chamando para a vida.

Ela anda firme. Passos duros para garantir as marcas de sua existência.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

Gênios das cordas

Nesse vídeo você assiste Ivan Vilela tocando "Armorial" no Auditório do Ibirapuera. Uma das mais belas composições para viola tocada por um grande mestre.
Postado originalmente no YouTube (http://br.youtube.com/watch?v=9wiLCqUviVI)

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Carência

A desgraça odeia a solidão. Ela sempre vem acompanhada de outras.

terça-feira, 1 de janeiro de 2008

O Líbano é aqui!

Lembro de 1987. Um amigo inusitado, brasileiro, recém chegado do Líbano, exibia fotos da terra onde foi criado. Marcas de balas e bombas de fazer inveja às favelas atuais. Sobravam escombros onde as pessoas, no seu dia-a-dia, amavam, se acariciavam e geravam filhos. Não há guerra que destrua os desejos.

Será? Pois cheguei aqui, nas bandas do bairro do Ipiranga, faz uns 10 anos. Bairro tranqüilo, ruas calmas no entorno da Av. Nazaré. Olhava o horizonte e via a cruz no alto da igreja da FAI (Faculdades Integradas do Ipiranga). Era mais que contraste, era o caminho para o céu.

O tempo passou e três espigões bloqueram o caminho. Atingir o céu necessitava desvio. Homens trabalhavam crentes em sua plenitude naquele mar de concreto, ferro, fios e blocos de cimento. Não sabiam da barreira que criavam para se alcançar a eternidade.

Choros e lamúrios pouco resolveram. Isso continua crescendo. E para cima. Ver onde é o leste e o oeste se tornará impossível em pouco tempo. Saber onde o Sol nasce será algo acessível apenas à quem pode pagar pela cobertura. Entraremos na era da bússola como marinheiros perdidos.

O terror bate na porta. Vejo velhos abandonando suas casas para locais mais distantes. Em seu lugar entrarão prédios altíssimos a nos esconder o sol. Antigos sobrados, bombardeados por marretas, esconderão para sempre a história dos que ali viveram. Esconderão nosso passado sob toneladas de concreto.