quinta-feira, 3 de abril de 2008

Elogio à Cegueira

Entrei faz pouco no blog do Luiz Carlos Azenha. Do lado direito, na seção Baú do Azenha, uma chamada para texto: óculos. Não ia perder a oportunidade de ler algo desse bem tão precioso. Belo texto sobre esse acessório que, para mim, é mais importante que cuecas. Acreditem... posso um dia até sair sem cuecas na rua, sem meus óculos jamais!

Nunca li Ensaio sobre a Cegueira, de Saramago. Mas um dia assisti no cinema - coisa rara em minha vida - o filme Janela da Alma. Pela primeira vez, de óculos, pude ver aquilo que vejo sem eles. Era uma cena simples em plena rua. Uma viagem de carro onde as luzes formavam um clarão incompreensível e magnífico. A essência da luz desacoplada de seu objeto.

Por três vezes em 30 anos tive os óculos quebrados. Sem um conjunto sobressalente penei durante a espera. O trabalho estagnou. Como bibliotecário e fotógrafo enxergar é essencial. Pedia ajuda para ler documentos urgentes. Pedia ajuda para atravessar a rua e arrumar os cabelos. Minha amiga Daia até hoje toma a providência de limpar meus óculos, debaixo do sol escaldante, quando fotografamos juntos. Limpa como se estivesse limpando os olhos de um bebê.

Sem mágoas da situação. Tivesse enxergado mais, teria lido menos. O que me fez ler foi a incapacidade de ver onde uma bola ia. Jogador "cegueta" só serve para dar canelada na defesa quando o time quer ir para a briga. O melhor de tudo é que quando se retira os óculos aguçam-se os cheiros, os calores, a respiração.

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