Engraçada, se podemos dizer assim, essa vida. Tenho um amigo que foi preso, por atividades subversivas, em 31 de agosto de 1969. É o mesmo dia em que nasci. Escapou das torturas e da prisão quando eu completava meus cinco anos de idade e tudo o que queria era andar num pequeno jipe metálico movido a pedais.
Sou fruto da desesperança. Fui gerado na desesperança. O Passarinho (Jarbas) que cantava na janela fazia apologias à prisão e não à liberdade. Nesse tempo em que eu era uma “porrinha de nada”, literalmente, as mães davam às trevas. Saíamos da prisão do ventre aconchegante para a prisão de uma sociedade repressora, moldada pelas lições de educação moral e cívica.
Hoje olho o céu de outono. É o que mais gosto. Azul e frio. E não enxergo o passado grudado em minhas costas. Sinto somente seu peso asfixiante e dolorido, cansativo e eterno. Passado eterno parece contradição.
segunda-feira, 5 de maio de 2008
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Um comentário:
Edu!!
Lindo texto!
Quando conseguimos transformar nosso conhecimento em palavras, acontece isso... Emociona.
Parabéns!
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