terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Como driblar o tempo

Escrevo nessa manhã de carnaval com maritacas ao meu ouvido. Não lembro de aparecerem nessa época do ano. Acho que só em meados de março, início do outono, elas vinham colorir de verde claro as copas das árvores em frente à delegacia. E emitir um som alto, todas ao mesmo tempo, acordando os antigos presos da carceragem.

Na outra esquina, mais novidades. Ela é dona de bar, 64 anos e viúva faz seis. O marido morreu novo, era mais jovem que ela e se foi tão rápido como uma talagada de pinga em dia de brinde. Continuou morando no mesmo lugar. Um quarto contíguo ao bar, coisa pequena de 2m x 2,50m, espaço onde só cabem ela e sua solidão.

Nos últimos anos fizeram propostas de compra do bar. Todas recusadas. Propostas de casamento, então, nem se fala. Recusava também. Mas o flerte acabrunhado da pernambucana enche o ambiente. Enche tanto que as portas permanecem levantadas do início da manhã até o surgimento das estrelas.

Ontem contou que está para se casar. Se fora de época ou não, tingiu por algumas horas o céu de azul. Enganou as maritacas, tenho certeza.

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