sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

O que moinhos geram?

Belo dia visitei a favela do Moinho. Bem no centro de São Paulo, abaixo do viaduto da av. Rio Branco. Fazia um trabalho fotográfico sobre a moradia digna. Havia trabalhado na rua Eduardo Prado. Lá, um antigo violinista dos cinemas da cidade (sim!!! na época do cinema mudo havia música ao vivo) contava sobre as bombas que caiam sobre os silos de farinha durante a revolução de 32.
O lugar era medonho. Circundado por trilhos de trem que ligam bairros da capital à grande São Paulo. Cantinho que nem traficante quer morar. Crianças brincavam entre barracos de madeira, água fétida e ruas de terra. Mas algo ali se destacava além dos antigos prédios da família Matarazzo. O que era, só percebi depois de algum tempo.
Desço dos antigos silos, agora bombardeados pelo tempo. Ladeira abaixo pelas escadas, do meu lado direito, um grande fosso assustador. À esquerda paredes davam vista aos trilhos e ao mar de finas lâminas de madeira em forma de barracos. Em todo espaço o cheiro de cobre derretido para reciclagem.
Volto arrebentado de degraus e pavor. Um escorregão e lá se vão os desejos, as vontades e os amores. Na saída, o bar do Edmilson. Cerveja de graça e pinga para o almofadinha (eu) que enfrentou a altura dos silos. Já em solo - seguro e um tanto bêbado, antes do forró - é que ouço uma frase que marcará minha vida: "vocês vem aqui discutir o limite da pobreza. Tem que discutir, antes, o limite da ganância".
O que os olhos mostravam, a alma não via.

Um comentário:

Anônimo disse...

Pois é....só que entrou para fazer algum trabalho na favela para não ter medo de nossas crianças de lá.....
Cristiane